Comando Aéreo exibia uma versão do símbolo desde 1918, antes que o emblema passasse a ser associado aos nacional-socialistas alemães e o partido NSDAP entre as décadas de 1920-1940, mas fazia tempos, a instituição sofria uma pressão interna para que o simbolo fosse removido. Discretamente, a mudança foi feita sem anuncio ou comunicado oficial.
Essa foi a notícia divulgada pela emissora alemã Deutsche Welle na última quinta-feira (2).
A Finlândia mudou o símbolo do Comando Aéreo do país sem fazer um anúncio oficial. O novo emblema mostra uma águia dourada cercada por um círculo de asas. Já o antigo trazia o antigo emblema da suástica, um dos símbolos mais sagrados de todos os tempos utilizados por diversas culturas desde os primórdios da civilização mas que hoje é demonizado em boa parte do mundo como fruto da propaganda de guerra aliada remanescente da Segunda Guerra Mundial (1939 – 1945).
A mudança, feita discretamente, foi notada por Teivo Teivainen, professor de política internacional da Universidade de Helsinque.
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Embora a entidade tenha parado de estampar a suástica em seus aviões após a Segunda Guerra Mundial, o símbolo ainda figurou pelas décadas seguintes em bandeiras, uniformes e símbolos de unidades de combate, em versões na cor azul, enquanto o brasão do Comando Aéreo usava uma suástica adornada com asas douradas.
Um porta-voz das Forças Armadas finlandesas disse à rede BBC que o emblema do Comando da Força Aérea foi modificado já em 2017, para corresponder ao símbolo usado mais comumente pela Força Aérea desde o final dos anos 1940: a águia dourada.
“Como os emblemas das unidades são usados nos uniformes, foi considerado impraticável e desnecessário continuar usando o emblema antigo, que causava mal-entendidos de tempos em tempos”, disse o porta-voz.
O Comando Aéreo é responsável por centralizar a direção da defesa aérea do país e serve como quartel-general do comandante da Força Aérea. O QG está localizado em Tikkakoski, cerca de 250 quilômetros ao norte de Helsinque.
It was long a rather surprising choice of imagery for Finland’s Air Force Command – a swastika and pair of wings. But now it has been confirmed the Air Force Command has quietly stopped using this unit emblem. https://t.co/XpX6hQ7Bxd via @BBCBreaking pic.twitter.com/q90sjmVz8v
— Logo Geek (@logogeek) July 1, 2020
As justificativas do professor Teivainen foram no mínimo interessantes, para não dizer, inusitadas. Sendo o primeiro a notar e anunciar a mudança, já havia questionado no passado se era apropriado continuar a usar a suástica. Ele levantou questionamentos como que se o símbolo poderia gerar antipatia entre os jovens finlandeses em relação às Forças Armadas e a Rússia, vizinha da Finlândia, poderia “interpretar a persistência do símbolo como um sinal de que os finlandeses ainda seriam inimigos”. Segundo ele, temia que o símbolo pudesse “impactar” a atitude dos vizinhos ocidentais em apoiar a Finlândia caso o país voltasse a ser “ameaçada pelos russos”.
História e contexto
A suástica é um símbolo místico encontrado em muitas culturas e religiões em tempos diferentes, dos índios Hopi aos Astecas, dos Celtas aos budistas, dos Gregos aos hindus, sendo encontrados registros desde o Neolítico.
No início do século XX, a suástica era bastante disseminada como adorno e brasões, sendo usada até mesmo como logotipo de empresas. No Brasil, figurou em propagandas da predecessora da empresa petrolífera Shell publicadas em jornais paulistas. Facilmente podia-se encontrá-la em países como Reino Unido, Finlândia, Irlanda, Letônia, Estados Unidos, Canadá, Polônia, Suécia e Espanha. Mesmo hoje, ela ainda está muito presente em países asiáticos como a Índia, Japão, Tailândia, China, etc.
No caso finlandês, a associação tem origem em um presente oferecido por um nobre conde sueco Eric von Rosen (1879-1948). Em meados de 1918, o conde sueco presenteou os finlandeses com aquela que seria a primeira aeronave a compor a Força Aérea do país, um monoplano de origem francesa fabricado sob licença na Suécia. À época, a Finlândia havia acabado de obter a independência do antigo Império Russo e ainda tentava formar as suas próprias forças armadas.
O conde Von Rosen usava uma suástica azul como um símbolo pessoal, uma espécie de amuleto da sorte. O avião dado como presente tinha justamente o símbolo estampado na fuselagem. A partir daí, a suástica azul se disseminou em futuras aeronaves finlandesas, passando ainda a fazer parte dos uniformes e emblemas de unidades de combate.
Aeronaves finlandesas voaram com o símbolo durante a Guerra de Inverno (1939-1940), quando o país enfrentou os invasores soviéticos. Ainda estamparam os aviões quando o país se envolveu mais diretamente na Segunda Guerra Mundial, se aliando à Alemanha nazista para combater os soviéticos mais uma vez. No país, essa segunda fase é conhecida como Guerra da Continuação.
Depois do fim da guerra, os finlandeses pararam de usar a suástica na fuselagem dos aviões, mas ela persistiu até o século 21 em unidades de combate e uniformes.
Von Rosen não tinha associação com os nacional-socialistas, que só foram surgir de forma organizada entre um e dois anos depois, 1919/1920. Ele consequentemente acabou tendo conexões com o governo alemão do chanceler Adolf Hitler entre 1933 e 1945, devido ao crescimento da influência política e econômica do país.

A irmã de sua esposa, Carin von Kantzow, se casou em 1923 com Hermann Göring, que viria a ser um dos mais poderosos e influentes homens do Alto Comando. O casal se conheceu no castelo Von Rosen em 1920, quando Göring trabalhava como piloto na Escandinávia.
Von Rosen também acabaria fundando o Bloco Nacional-Socialista Sueco, um grupo fascista que existiu entre 1933 e 1936. Em entrevistas da época, ele expressou admiração pelos nacional-socialistas alemães e disse na época que esperava com isso um renascimento do “espírito nórdico” na Suécia.
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